Atividade

26670 - Espinosa contra Aristóteles: Ciência do Singular e Ciência do Universal na Psicopatologia do Autismo e da Psicose Infantil

Período da turma: 02/03/2009 a 02/03/2011

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Descrição: OBJETIVOS:
A ciência do universal de Aristóteles circunscreve o conhecimento científico à investigação e à demonstração da inclusão necessária do indivíduo na espécie e da espécie no gênero e considera aquilo que o indivíduo tem de singular como acidente não-científico. Em contrapartida, Espinosa concebe a essência singular de cada homem como passível de conhecimento científico, definindo-a pelo poder de fazer certas coisas que só podem ser conhecidas pelas leis de sua própria natureza. Centrando a bibliografia de apoio nas reflexões clínicas sintetizadas nos trabalhos de mestrado e doutorado do docente (“O Caso Hermes: a dimensão política de uma intervenção psicológica em creche – um estudo em psicologia institucional” e “Memorial de Nair: hipóteses sobre a gênese da simbolização à luz de um suposto caso de psicose e autismo”), a disciplina propõe-se a confrontar as perspectivas científicas de Aristóteles e Espinosa quanto às suas conseqüências para a psicopatologia do autismo e da psicose infantil.

JUSTIFICATIVA:
Considerar a singularidade como acidente não-científico, conforme o ponto de vista aristotélico, implica excluir, em nome do genérico e do universal, a possibilidade de um conhecimento e de um tratamento rigoroso do caso psicopatológico concreto, objeto final da intervenção na área da saúde mental. Disso resulta o sacrifício epistemológico e ético do único ao múltiplo, do qualitativo ao quantitativo, do irrepetível ao estatístico. Ora, não se pode nem conhecer, nem beneficiar uma classe de casos, sem fazê-lo com cada caso. Na medida em que a perspectiva espinosana permite fundamentar filosoficamente uma teoria e uma prática psicopatológica que tem como princípio a irredutibilidade e a cognoscibilidade científica do singular, oferece a perspectiva de superar o impasse ético e epistemológico já referido, alicerçando na força singular de cada sujeito a revelação dos princípios práticos e teóricos envolvidos no estabelecimento ou no restabelecimento da sua saúde mental, tal como evidenciado pelas reflexões clínico-teóricas já mencionadas.

CONTEÚDO:
O programa da disciplina terá como instrumento de estudo literaturas filosóficas e psicopatológicas que permitam fundamentar o acompanhamento das conseqüências teóricas, diagnósticas, institucionais, éticas e clínicas das perspectivas de Aristóteles e de Espinosa, conforme os seguintes pontos programáticos:

I) a Ciência, o Universal e o Singular na Metafísica e na Lógica de Aristóteles;

II) privação e negação na crítica espinosana das definições genéricas: a carta a Blyenbergh;

III) singularidade e generalidade no papel das reações frente ao paciente em Bergeret, Minkowski e Sacks;

IV) O Caso Hermes: da alienação institucional à singularidade instituinte;

V) O Caso de Nair: a recusa da razão universal como condição existencial.

BIBLIOGRAFIA (em conformidade aos pontos programáticos da disciplina):

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco (Os Pensadores). São Paulo, Abril Cultural, l973.

ARISTÓTELES. La Métaphysique (Tome I et II). Paris, Librairie Philosophique J. Vrin, 1953.

ARISTÓTELES. The Ethics of Aristotle - The Nichomachean Ethics. Middlesex (England), Penguin Books, 1976.

BERGERET, J. Personalidade Normal e Patológica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

BOVE, L. "Hilaritas et Acquiescentia in se ipso" [Hilaridade e Contentamento íntimo], texto apresentado oralmente na 4ª Conferência "Spinoza by 2000", Jerusalém, l993, mimeo.

CALDERONI, D. “A prisão de dores e para além". Laboratório de Psicopatologia Fundamental, PUC/SP, 05/99, mimeo.

CALDERONI, D. Memorial de Nair – hipóteses sobre a gênese da simbolização à luz de um suposto caso de psicose ou autismo. São Paulo, 2001, Tese (Doutorado). Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo.

CALDERONI, D. O Caso Hermes: a Dimensão Política de uma Intervenção Psicológica em Creche - Um Estudo em Psicologia Institucional. Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, 1994.

CASTORIADIS, C. "A Descoberta da Imaginação" in As Encruzilhadas do Labirinto II - Os Domínios do Homem. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987, p. 335-372.

CHAUÍ, M. “A Lógica ou Órganon” in Introdução à História da Filosofia - Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo. Editora Brasiliense, 1994.

CHAUÍ, M. "Elementos de lógica" e "A Metafísica de Aristóteles" in Convite à Filosofia. São Paulo. Ática. 1994.

CHAUÍ, M. "O Contradiscurso de Baruch Espinosa" in Da realidade sem mistérios ao mistério do mundo - Espinosa, Voltaire, Merleau-Ponty. São Paulo. Editora Brasiliense, 1983.

CHAUÍ, M. S. A Nervura do real – imanência e liberdade em Espinosa. São Paulo, Companhia das Letras, 1999.

COSTA PEREIRA, M. E. “O Geral das Estruturas Clínicas e a Singularidade do Sofrimento: encontros e desencontros” in QUINET, A. Psicanálise e Psiquiatria – controvérsias e convergências. Rio de Janeiro, Rios Ambiciosos, 2001, p. 55-68.

CRESSON, A. Aristóteles (contendo extratos da obra de Aristóteles). Lisboa, Edições 70, l981.

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Artes Médicas, 2000.

ESPINOSA, B. “Carta nº 21 de Espinosa a Blyenbergh (Provavelmente entre 21 de janeiro e 19 de fevereiro de 1665)” in Espinosa - Os Pensadores, vol 1, São Paulo. Nova Cultural, 1989.

ESPINOSA, B. "Ética" in Espinosa - vol. II (Os Pensadores), Nova Cultural, São Paulo, 1989.

FÉDIDA, P. "Auto-erotismo e autismo: condições de eficácia de um paradigma em psicopatologia" in Nome, figura, memória. A linguagem na situação psicanalítica. São Paulo, Escuta, 1991, p. 149-170.

FÉDIDA, P. "De uma psicopatologia geral a uma psicopatologia fundamental. Nota sobre a noção de paradigma" in Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, Vol. I, nº 3, setembro de 1998, p.107-121 (publicado originalmente em Pierre Fédida. Crise et contre-transfert. Paris, PUF, 1992, p. 287-301).

HELLER, A. - Aristóteles y el mundo antiguo. Barcelona, Ediciones Península, l983.

MERLEAU-PONTY, M. 'O Filósofo e sua Sombra' " in Merleau-Ponty (Os Pensadores). Nova Cultural, São Paulo, 1989, p. 187-188.

MINKOWSKI, E.. El tiempo Vivido. Fondo de Cultura Económica, México, 1973.

SACKS, O. Tempo de Despertar. Cia. das Letras, São Paulo, 1997.

Carga Horária:

30 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 60
 
Ministrantes: Cristiano Novaes de Rezende
David Calderoni


 
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