Atividade

134670 - Ressignificar coleções: diálogos entre o acervo do MAC USP e a Galeria de Pesquisa da Terra Foundation for American Art à luz das demandas contemporâneas

Período da turma: 05/07/2025 a 26/07/2025

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Descrição: EMENTA:
O curso propõe uma reflexão crítica sobre as formas de construção, mediação e ressignificação de coleções artísticas, partindo do diálogo entre o acervo do MAC USP e a Galeria de Pesquisa da Terra Foundation for American Art. Através da análise das origens e usos institucionais desses acervos, os encontros discutirão como exposições e coleções são marcadas por narrativas de poder, identidade e pertencimento. Serão abordadas questões fundamentais da sociedade contemporânea, como alteridade, racismo, misoginia e colonialidade, destacando o papel dos museus e das instituições na reinterpretação de seus acervos à luz dessas demandas.
A partir do conceito de “obra aberta” (Umberto Eco) e do entendimento das exposições como espaços discursivos, os participantes serão convidados a pensar as coleções como dispositivos políticos, moldados por contextos históricos e ideológicos específicos. O curso enfatiza a importância de reposicionar criticamente as narrativas museológicas e artísticas, aproveitando o intercâmbio com instituições internacionais como oportunidade de ampliação dos horizontes interpretativos e aprofundamento do diálogo entre realidades culturais distintas.

PROGRAMA:
AULA 1 – O colecionismo como forma de poder: origem e desdobramentos
Esta aula abordará o surgimento das práticas de colecionismo no Ocidente e sua relação com a construção de poder simbólico, político e econômico. Serão discutidas as motivações por trás da formação de coleções públicas e privadas, destacando como essas práticas moldam narrativas culturais e históricas. Também serão analisadas as implicações coloniais e elitistas do colecionismo, desde as “câmaras de maravilhas” renascentistas até os grandes museus contemporâneos, com foco na crítica à ideia de neutralidade institucional.

AULA 2 – A arte indígena e o indígena na arte; o negro e a representação da negritude nas artes visuais
Esta aula propõe uma reflexão crítica sobre a presença de povos historicamente marginalizados no campo das artes visuais, com foco nas populações indígenas e negras, sobretudo pensando na origem miscigenada da cultura brasileira. Serão discutidas as maneiras como indígenas e negros foram representados — muitas vezes de forma estereotipada ou "exotizante" — pelas tradições artísticas ocidentais, bem como os processos de apagamento e silenciamento de suas produções autorais ao longo da história.
A partir da análise de obras e contextos expositivos, serão exploradas as distinções entre arte sobre e arte feita por sujeitos indígenas e negros, além das disputas em torno da legitimação dessas produções no sistema da arte. A aula também destacará a ascensão de artistas indígenas e negros contemporâneos que têm reposicionado esses discursos dentro e fora das instituições, tensionando categorias como pertencimento, identidade, autoria e reparação simbólica. Nesse sentido, o museu será pensado como espaço de poder, mas também como campo possível de ressignificação e reconstrução de narrativas plurais e emancipatórias.

AULA 3 – Moderno, modernidade e modernismo no Norte e na periferia do capitalismo.
A partir de uma perspectiva comparativa, esta aula examinará os distintos significados e impactos do modernismo nos centros e periferias do capitalismo, partindo das obras estadunidenses da Terra Foundation e daquelas nacionais. Serão exploradas as especificidades do modernismo europeu e norte-americano em contraponto aos projetos modernistas latino-americanos, com ênfase no contexto brasileiro. A aula problematiza a noção de universalidade da modernidade artística, destacando como ela foi apropriada, ressignificada ou contestada por artistas e instituições em diferentes contextos socioculturais.

AULA 4 – O feminino na arte e a arte "feminina"
Esta aula propõe um mergulho nas construções de gênero no campo da arte, investigando tanto a representação do feminino ao longo da história da arte quanto a produção artística realizada por mulheres. Serão discutidas as barreiras históricas enfrentadas pelas artistas mulheres, os movimentos de resistência e afirmação, e as questões ligadas à identidade de gênero e interseccionalidade. A aula também problematiza a categorização da “arte feminina” e os desafios da curadoria contemporânea frente às lutas feministas e às demandas por equidade nos espaços artísticos.

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Carga Horária:

12 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 20
 
Ministrantes: Rodrigo Vicente Rodrigues


 
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