Atividade

133534 - Cinema: antes e depois da queerness

Período da turma: 01/04/2025 a 10/06/2025

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Descrição: Detalhamento: (programa com bibliografia)


Para problematizar de que maneira a ideia de cinema gay, homossexual e/ou lésbico se expande diante da emergência de uma política e teoria queer, o curso se devolverá considerando a História do Cinema em três momentos: 1) a temática gay e lésbica antes e depois do nascimento do cinema até o final dos anos 1920; 2) entre 1930 e os anos 1960, quando nos Estados Unidos e em diversas partes do mundo se intensificam as práticas e os instrumentos de controle à apresentação da temática da homossexualidade e à representação de gays e lésbicas no cinema; 3) e a partir dos anos 1970, quando se registra um novo momento da produção fílmica gay e lésbica tanto no cinema mainstream quanto independente, com as emergências dos estudos e do ativismo denominado de queer.

Na unidade um, trataremos sobre a representação de gays e lésbicas no início do cinema. Também abordaremos a produção de filmes gays e lésbicos, então considerados pornográficos, para exibição em pequenas salas clandestinas. Ainda discorreremos sobre o surgimento das primeiras representações queerness, tanto em filmes experimentais, quanto em ficções dos gêneros humor, drama, guerra etc. Durante os encontros, serão apresentados trechos e/ou imagens ilustrativas dos filmes que levaram pela primeira vez ao cinema os temas da homossexualidade e da lesbianidade aos espaços de projeção.

Na unidade dois, apresentaremos e analisaremos os acontecimentos, os argumentos de organizações religiosas e civis, além dos cenários econômicos e políticos, que sustentaram as práticas da censura cinematográfica às representações gays e lésbicas, sobretudo, a partir dos anos 1920. Também vamos discorrer sobre a censura à homossexualidade e à lesbianidade no cinema mainstream hollywoodiano, primeiro por meio do Código Hays (1930-1968) e, após a Segunda Guerra Mundial, com o Macartismo. Além disso, vamos apresentar e discutir as diretrizes do Código Hays e como este conjunto normas impactou a representação de gays e lésbicas no cinema e afetaria até os dias de hoje ao promover a codificação queer.

Na unidade três, apresentaremos a origem e como se deu a evolução do emprego da palavra queer na língua inglesa entre os séculos XVI e XX. Veremos ainda em que contexto e como a palavra queer foi recuperada e passou a ser usada de maneira afirmativa para se designar as identidades não heterossexuais e não cisgênero. Vamos debater sobre quais são os desafios para se empregar a palavra queer em idiomas de origem não inglesa e como o termo, no presente, continua sendo alvo de controvérsias e até rejeitado por alguns ativistas e militantes do próprio Movimento LGBTQ+. Ao se delinear esta reflexão, veremos como o queer se tornou uma política e uma teoria usadas para designar um campo de estudos, de produção e de exibição cinematográficas.

De forma geral, as aulas serão expositivas e dialogadas, incluindo leituras direcionadas e discussões sobre filmes. Com o objetivo de formar um repertório básico cinematográfico LGBTQ+, apresentaremos trechos de produções relevantes. Como atividade extrassala, sugeriremos assistir alguns filmes completos, entre documentários e ficções, que conseguiram subverter as imposições de censura à temática homossexual e que marcam a história mais recente do Cinema Queer.

Cronograma de Atividades

Unidade I – A temática gay e lésbica antes e depois do nascimento do cinema.

08/04/2025 - Neste primeiro encontro, trataremos sobre o início do cinema no contexto da criminalização da homossexualidade, no final do século XIX. Falaremos sobre o julgamento do escritor Oscar Wilde, quando se identifica pela vez primeira o emprego do termo queer para se referir a homossexualidade de maneira ofensiva. Trataremos ainda sobre as primeiras iniciativas de censura ao cinema (National Board of Review of Motion Pictures/USA/1909) e as primeiras representações de gays e lésbicas nos filmes. Entre essas primeiras produções, destacaremos a história da produção The Gay Brothers (Thomas Edison, USA, 1894), memorializado por Vito Russo, na década de 1980, como o primeiro filme gay. Também veremos as discussões em torno dos primeiros filmes de beijo no cinema, entre os quais, o Sapho Kiss (Lubin, 1890).

22/04/2025 - No segundo encontro, debateremos sobre um conjunto de filmes com representações de gays e lésbicas, a partir do momento em que o cinema se torna narrativo, durante as duas primeiras décadas da indústria cinematográfica. Ocasião em que se observa o cinema aberto à queernesse positiva. Nesse encontro, também iremos problematizar as produções pornográficas dos anos 1910, a partir da produção dos irmãos Baños, pioneiros do cinema espanhol. Muitos dos filmes pornográficos (que conhecemos por meio de fotografias) produzidos por Ricardo Baños foram exibidos em salas ou sessões clandestinas e demonstram relações homossexuais, sobretudo, lésbicas. Para alguns pesquisadores, foram as salas clandestinas o lugar de exibição de produções LGBTQ+ nos primeiros anos de história do cinema.

29/04/2025 - No terceiro encontro, trataremos do início do endurecimento da censura à homossexualidade no cinema, a partir de meados dos anos 1920. Vamos debater sobre os filmes que marcaram este momento tanto de maneira positiva quanto negativa às lutas do Movimento LGBTQ+. Também vamos tratar sobre o contexto social e político que marcou as discussões sobre a criação de um código moral para os filmes. Entre os contextos sociais e político, destacaremos a Grande Depressão de 1929, nos Estados Unidos, e a ascensão de regimes ditatoriais como o nazismo, o fascismo, o varguismo, stalinismo e o salazarismo.

Unidade II - as práticas da censura cinematográfica às representações gays e lésbicas, sobretudo, a partir dos anos 1920.

06/05/2025 - No quarto encontro, vamos discutir sobre os princípios e as cláusulas que regeram o Código Hays e como o Macarthismo intensificou a censura em Hollywood e o “expurgo gay”. Veremos como transcorreu a censura em Hollywood até 1968 e, em seguida, como foi adotado o sistema de classificação etária, em vigor até os dias de hoje. Também apresentaremos exemplos de alguns filmes que subverteram o Código Hays.

13/05/2024 - No quinto encontro, trataremos sobre a chamada codificação queer promovida pelo Código Hays no cinema e suas influências na produção cinematográfica até os dias de hoje. Vamos debater como a codificação impactou a queernesse no cinema e sobre os critérios adotados pela Gay and Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD) que analisam atualmente como personagens LGBTQ+ são incluídos nos filmes.

20/05/2025 - No sexto encontro, vamos tratar da história das primeiras manifestações pelos direitos de gays e lésbicas, nos anos 1960 e 1970. Vamos ver como o cinema se insere nas discussões do Movimento LGBTQ+, especialmente a partir do levante Stonewall, em 28 de junho de 1969. Para isso, vamos visitar a história de Vito Russo, cinéfilo, militante gay e autor do livro The Celluloid Closet Homosexuality in the movies, lançado em 1981.

Unidade III – Teoria e Cinema Queer

27/05/2025 - No sétimo encontro, traremos sobre a constituição do campo dos estudos queer, a partir dos anos 1980. Vamos discutir sobre os significados e ressignificações do termo queer e sobre os desafios para se empregar a palavra queer. Também vamos visitar alguns textos elementares da Teoria Queer. Ao se delinear esta reflexão, veremos como o queer se tornou uma política e uma teoria usadas para designar um campo de estudos, de produção e de exibição cinematográficas.

03/06/2025 - No oitavo encontro, vamos tratar e debater sobre a compreensão de New Cinema Queer, que começa a se constituir no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Veremos como a aids se tornou um catalisador inicial para cineastas e realizadores denominados queer. Em formato de seminário, iremos debate sobre as primeiras produções do novo cinema queer.

10/06/2025 - O nono encontro, em formato de seminário, será dedicado à análise da produção de Céline Sciamma que se destaca como uma das mais representativas diretoras do cinema queer, lésbico e não-binário.

Referências

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Carga Horária:

30 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 30
 
Ministrantes: Ana Cláudia da Cruz Melo


 
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