131574 - Cinema Autobiográfico em Perspectiva |
Período da turma: | 27/11/2024 a 12/12/2024
|
||||
|
|||||
Descrição: | Objetivo:
Apresentar o documentário autobiográfico a partir de uma perspectiva não-cronológica, que valorize a diversidade das temáticas e dos espaços geográficos e temporais da autobiografia no cinema. Instigar discussões reflexivas acerca do documentário autobiográfico enquanto forma estética e política. Apresentar uma filmografia autobiográfica condizente com a proposta de diversidade temática e formal do curso. Aula 1 (27/11, 2h) – Contextualização e perspectivas autobiográficas Responsáveis: Esther Hamburger, Gabriel Tonelo e Marcos Yoshi O objetivo da aula é introduzir alguns dos fundamentos históricos, teóricos e estéticos do documentário autobiográfico. Serão privilegiadas obras contemporâneas de reconhecida relevância crítica, como, por exemplo, Democracia em Vertigem (Petra Costa, 2019), Strong Island (Yance Ford, 2017) e For Sama (Waad Al-Kateab, 2019). Tais filmes serão analisados em diálogo com outros documentários pessoais historicamente e/ou teoricamente significativos com intuito de destacar algumas das temáticas e dos elementos fundamentais da produção, em articulação com questões como subjetividade, identidade, performatividade e política. Aula 2 (28/11, 2h) – O documentário autobiográfico estadunidense: cinema direto, autorreflexividade e além Responsável: Gabriel K. Tonelo A aula abordará o desenvolvimento do documentário autobiográfico no contexto estadunidense. Explicaremos como a metodologia de captação imagético-sonora sincrônica do cinema direto desdobrou-se em narrativas fílmicas de cunho autobiográfico, a partir da década de 1970. Dissertaremos sobre a equipe de uma-pessoa-só (one-person-crew) em função da narratividade autobiográfica; a produção do MIT Film Section; a exploração do cotidiano do eu-realizador em Diaries (1971 – 1976), de Ed Pincus; a entrevista e o retrato familiar em Family Portrait Sittings (Alfred Guzzetti, 1975); a voz over sobre a metodologia do cinema direto em Ross McElwee; e um panorama sobre a intersecção entre autobiografia e exploração identitária (gênero, sexualidade, raça, identidade nacional) no documentário estadunidense a partir da década de 1970. Referências EGAN, Susanna. “Encounters in Camera: Autobiography as Interaction”. Modern Fiction Studies 40.3. p. 593-618, 1994 MACDONALD, Scott. American Ethnographical Film and Personal Documentary: the Cambridge turn. Londres e Los Angeles: University of California Press, 2013. PINCUS, Edward. “New Possibilities in Film and the University”. Quarterly Review of Film Studies, Vol.2(2), p.159-178. 1977 _______________ “One person sync-sound: a new approach to cinema vérité”. Filmmakers Newsletter. Volume 6, n.01, nov. 1972. TONELO, Gabriel. O documentário autobiográfico: o cinema de Cambridge e a obra de Ross McElwee. Tese de doutorado. Campinas, SP: [s.n.], 2017. _________, Gabriel. “Collective Matters in the Contemporary American Personal Documentary: Meditations on Racism, Whiteness and Masculinities”. Quarterly Review of Film and Video. Volume 39 (3), p 490-526, 2022. Aula 3 (04/12, 2h) – Imagem de arquivo, memória e fabulação no filme autobiográfico Responsável: Carolina Gonçalves A partir da observação das poéticas de determinadas obras, pretende-se abordar nesse encontro a prática do reemprego de imagens de arquivo na elaboração de filmes autobiográficos. Propomos uma discussão sobre a relação entre a imagem de arquivo e a evocação de reminiscências na criação das narrativas. A imagem como arquivo do vivido e simultaneamente lugar de invenção de memórias, uma vez que a imagem registrada nem sempre coincide com as lembranças que guardamos dos eventos. Imagens de arquivo são ao mesmo tempo o registro de um contexto histórico e social, como também de momentos particulares da vida privada. Busca-se apresentar e problematizar as estratégias expressivas, com o intuito de debater a potência e ao mesmo tempo a fragilidade dessas imagens, enquanto suportes da memória. O reemprego de imagens figura como uma marca do contemporâneo e consideramos o filme autobiográfico um campo propício para discutir tal fenômeno. Referências AUMONT, Jaques. O Olho Interminável. Cosac Naify: São Paulo, 2004. _____________. A Imagem. Campinas: Papirus Editora, 2012. BARTHES, Roland. A Câmara Clara. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1984. BELLOUR, Raymond. Entre Imagens: foto cinema, vídeo. Campinas: Papirus, 1997. BENJAMIN, Walter. O Narrador. In: Obras Escolhidas vol. 2. Tradução Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1996. BLÜMILINGER, Christa. Cinéma de Seconde Main – La esthétique du remploi dans lárt du film et des nouveaux médias. Paris: Klincksieck, 2013 CORRIGAN, Timothy. O filme-ensaio desde Montaigne e depois de Marker. Campinas: Papirus, 2015. DELEUZE, Gilles. L’Image Mouvement. Paris: Les Éditions de Minuit, 1983. _____________. L’Image Temps. Paris: Les Éditions de Minuit, 1985. LEJEUNE, Philippe. O Pacto Autobiográfico – de Rousseau à Internet. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. MACDOUGALL, David. Films de Mémoire. In: Journal des Anthropologues, nº 47/48, Printemps 1992. Anthropologie Visuelle, PP. 67-86. NORA, Pierre. Entre Memória e História. In: Les Lieux de Mémoire, Tradução. RASCAROLI, Laura. The Personal Câmera - Subjective Cinema and The Essay Film. Grã Bretanha: Wallflowers, 2009. RENOV, Michael. The Subject of Documentary. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2004. RICOEUR, Paul. O Si-mesmo como outro. São Paulo: Martins Fontes, 2014. SARLO, Beatriz. Tempo Passado – Cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Companhia das Letras, São Paulo, 2007. WARBURG, Aby. Introdução à Mnemosine. In: Histórias de Fantasmas Para Gente Grande. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. Aula 4 (04/12, 2h) – Documentário autobiográfico japonês, 1970 a 1990 Responsável: Marcos Yoshi A aula concentra-se nas duas primeiras décadas do documentário autobiográfico japonês, conhecido como serufu dokyumentari (self-documentary) no contexto nipônico. A tradição japonesa no cinema autobiográfico inicia-se em 1974 com o lançamento de dois filmes paradigmáticos, Extreme Private Eros: Love song 1974, de Hara Kazuo, e Impressions of a Sunset, curta-metragem realizado por Suzuki Shiroyasu. A apresentação destacará as principais características da produção subsequente, mapeando as relações entre modo de produção, estética e política, até chegar naquela que, provavelmente, é a mais conhecida dentre as obras autobiográficas japonesas: os documentários pessoais de Kawase Naomi. Referências ANDERSON, Joel Neville. Home birth, world cinema: Kawase Naomi’s films in circulation. In. Studies in Documentary Film, 14:1, 2020. Pp. 50-62. HARA, Kazuo. Camera Obtrusa. The Action Documentaries of Hara Kazuo. Kaya Press. Trans. Pat Noonan and Takuo Yasuda. New York, 2009. GEROW, Aaron. Documentarists of Japan, no2: An interview with Hara Kazuo. Documentary Box 3, 1993. Pp. 12-18. NADA, Hisashi. 2005. “Self-Documentary: Its Origins and Present State.” Documentary Box 26: 2–16. NORNES, Abé Mark. The Postwar Documentary Trace: Groping in the Dark. In. East Asia Cultures Critique, volume 10, number 1, spring 2002. Pp. 39-78. NORNES, Abé Mark. Private Reality: Hara Kazuo’s Films. Rites of Realism: Essays on Corporeal Cinema, edited by Ivone Margulies, New York, USA: Duke University Press, 2003, pp. 144-163. OKADA, Jun. Hara Kazuo and Extreme Private Eros: Love Song 1974. In. Exploiting East Asian Cinema. Genre, Circulation, Reception. Provencher, Ken, and Dillon, Mike (ed.). Bloomsbury Academic, 2018, pp. 172-187. RIE, Karatsu. Questions for a Women's Cinema: Fact, Fiction and Memory in the Films of Naomi Kawase, Visual Anthropology, 22:2-3, 2009, 167-181. RUOFF, Jeffrey. Japan’s Outlaw Filmmaker: an Interview with Hara Kazuo. Iris: A Journal of Theory on Image and Sound, n 16, Spring, 1993, pp. 103-113 RUOFF, Kenneth. Filming at the Margins: The Documentaries of Hara Kazuo. Iris: A Journal of Theory on Image and Sound, n 16, Spring, 1993, pp. 115-126 YU, Kiki Tianqi. ‘My’ Self on Camera. First Person Documentary Practice in an Individualising China. Edinburg University Press. 2019. Aula 5 (10/12, 2h) – O documentário autobiográfico no Brasil: uma perspectiva a partir da realização feminina Responsável: Hanna Esperança O encontro tem como proposta compreender a noção de documentário autobiográfico dentro do contexto brasileiro e em relação à prática cinematográfica feminina que se destacou no Brasil entre as décadas de 1970 e 1980. Através de um panorama que leve em consideração as características políticas e cinematográficas do período, gostaríamos de contrapor a noção atualmente estabelecida de que o cenário brasileiro era completamente desfavorável para a proliferação da autobiografia no documentário e/ou que ela sequer existiu anteriormente aos anos 2000, década que marca a consolidação da prática no país com a estreia dos longas-metragens Um passaporte húngaro (Sandra Kogut, 2001) e 33 (Kiko Goifman, 2002). A partir de filmes realizados por Helena Solberg, Olga Futemma e Maria Inês Villares, é possível perceber que algumas subjetividades já se encontravam em tensão ainda no século XX, permitindo a elaboração de uma outra perspectiva da história da autobiografia no Brasil. Referências BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997. ESPERANÇA, Hanna. Dimensões autobiográficas na obra de Olga Futemma. In: Encontro Socine, XXV., 2022, São Paulo. Anais eletrônicos [...] São Paulo, 2023. p. 481-486. ____. Diretoras brasileiras e a representação da mulher em documentários dos anos 1980. 2020. 231 f. Dissertação (Mestrado em Imagem e Som) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. HOLANDA, Karla. Cinema brasileiro (moderno) de autoria feminina. In: HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti (Orgs.). Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro. Campinas: Papirus, 2017. LEBOW, Alisa. The cinema of me: the subjectivity in first person documentary. New York: Wallflower Press, 2012. LESAGE, Julia. The political aesthetics of the feminist documentary film. Quarterly Review of Film Studies, v. 3, n. 4, p. 507-523, 1978. ____. Women make media: three modes of production. In: BURTON, Julianne. The Social Documentary in Latin American. Pittsburgh: The University of Pittsburgh Press, 1990. LIRA, Bertrand. O pioneirismo do documentário autobiográfico no cinema direto paraibano dos anos 1980. Revista Rebeca, v. 2, n. 6, p. 1-23, 2017. MARSH, Leslie. Embodying citizenship in Brazilian women’s film, video, and literature, 1971 to 1988. 2008. 378 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – University of Michigan, Michigan, 2008. MOURÃO, Patrícia. A invenção de uma tradição: caminhos da autobiografia no cinema experimental. 2016. 296 f. Tese (Doutorado em Meios e Processos Audiovisuais) – Universidade de São Paulo, São Paulo. PIEDRAS, Pablo. El cine documental en primera persona. Buenos Aires: Paidós, 2014. RENOV, Michael. The subject of documentary. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2004. XAVIER, Ismail. O cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz e Terra, 2001. Aula 6 (11/12, 2h) – A autobiografia no Cinema Queer Responsável: Haroldo Lima Para além dos diários fílmicos em vídeo produzidos no calor da epidemia de HIV/aids, o documentário autobiográfico encontrou volumes queers a partir da intensa experimentação formal e estilização dos dados autobiográficos agenciados por realizadores e realizadoras ao longo da década de 1980 e 1990. O New Queer Cinema, nesse sentido, é entendido como uma resposta direta em sua multiplicidade poética às guerras sexuais do período e deve ser visto como um movimento que deixa marcas inegáveis no campo documental e, de maneira expressiva, em sua dobra autobiográfica. É nesse sentido que o módulo toma filmes que tangenciam ou integram o New Queer Cinema para apresentar algumas características da força confessional sobre a subjetividade queer no documentário. Para tanto, vamos tomar a performance e a estilização do material biográfico para tentar entender as estratégias autorreferenciais, biográficas e coletivas agenciadas em filmes e vídeos tão diversos quanto os realizados por Curt McDowell, Su Friedrich, Marlon Riggs, Richard Fung e Cheryl Dunye. Referências BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: Crítica da violência ética; trad. Rogério Bettoni. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. FUCHS, C., HOLMLUND, C. Between the streets, in the sheets: Queer, lesbian, gay documentary. Minneapolis: Minnesota University Press, 1997. NICHOLS, Bill. Blurred Boundaries: Questions of Contemporary Culture. Indianapolis: Indiana University Press, 1994. LANE, Jim. The autobiographical documentary in America. Madison: The University of Wisconsin Press, 2002. RENOV, Michel. The subject of documentary. Minneapolis & London: University of Minnesota Press, 2004. _______. Theorizing documentary. New York: Routledge, 1993. RICH, Ruby. New Queer Cinema: The director’s cut. Durham & London: Duke University Press, 2013. TONELO, Gabriel. O documentário autobiográfico: o cinema de Cambridge e a obra de Ross McElwee. Campinas: [s.n], 2017. |
||||
Carga Horária: |
12 horas |
||||
Tipo: | Obrigatória | ||||
Vagas oferecidas: | 120 | ||||
Ministrantes: |
Carolina Gonçalves Pinto Gabriel Kitofi Tonelo Hanna Henck Dias Esperança Haroldo Ferreira Lima Marcos Vinicius Yoshisaki |
![]() |
Créditos © 1999 - 2025 - Superintendência de Tecnologia da Informação/USP |