Atividade

130463 - Oficina: Conversa ao pé do fogão

Data da turma: 14/01/2025

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Descrição: Conversa ao pé do fogão: uma vivência da culinária cotidiana brasileira como forma de resgate e valorização das tradições afro-ameríndias.
Esta oficina contribuiu para a escrita da Dissertação de mesmo nome e fez parte da 2ª e 3ª Jornadas Pedagógicas no CEU-Butantã (2015 e 2016), fez parte do Lab_arte, Arte & Sagrado em 2018 e 2019 e foi ministrada na Escola - EMEF Antonia e Artur Begbie - São Paulo - SP para a turma de EJA em 2018.
Partimos do pressuposto de que a maioria de nós tem ascendência africana ou nativa brasileira. Por mais distante geracionalmente que estejam estas raízes, o que nos conecta a elas são as histórias e os costumes, que prescindem de registro escrito e são traços identitários, constituintes, estruturantes de nossa cultura e remissivos às nossas raízes. O ato de comer e o universo mitológico familiar são traduções ou leituras de um espectro cultural amplo dentro de um pequeno núcleo. São meios importantes de transmitir e perpetuar, ainda que de forma dinâmica, a memória, a identidade e o sentimento de pertença étnica. A apreensão dessas culturas antes ágrafas deve acompanhar sua cosmovisão e respeitar alguns de seus caracteres, tais como: não há linearidade histórica, logo, não há escatologia; não havendo escatologia, não há necessidade de salvação ou redenção. O universo mítico não está separado da vida cotidiana. Todos estão salvos, ninguém se perdeu do divino ou suprassensível, não há com o que "re-ligar". Assim, a tradição é reinterpretada e revivida a cada vez que é trazida à tona.
No campo da educação, mais importante do que traduzir esse rol de conceitos em tópicos disciplinares para uma aula, é trazer à consciência de cada participante a percepção de que sua história está em algum grau vinculada a esses caracteres, seja pelos troncos étnicos em questão, seja por outros, como europeus, escandinavos e orientais. Apesar da premência dos valores abraâmicos em nossa sociedade, "todos temos um pé no fogão", na fogueira ancestral onde se contavam histórias e se aprendia como o mundo era, viria a ser ou deveria se tornar.
Objetivos: Perceber, exercitar e legitimar a oralidade como forma de transmissão do saber (também) no ambiente escolar, como via de empreender o resgate e a valorização da cultura afro-ameríndia. Sublinhar as pertenças étnico-culturais como objeto da transmissão oral. Discutir o respeito e a tolerância, em detrimento de institucionalidades redutoras (agremiações políticas, religiosas e de qualquer outra espécie).
Metodologia: Realizaremos uma vivência na cozinha da unidade. Os participantes serão convidados a se apresentarem a partir de uma frase, ditado popular, trocadilho ou anexim familiar de sua escolha. Em seguida, todos serão convidados a preparar o lanche vespertino, que incluirá tapiocas, cuscuz e café, utilizando livremente o espaço e os utensílios da cozinha da escola e os ingredientes disponibilizados pelo mediador (goma de tapioca, queijo de coalho, manteiga, leite, leite condensado, açúcar, pó de café e flocos de milho). Os participantes se organizam em grupos conforme o item a ser preparado e, durante o processo, incentiva-se a troca de histórias familiares acerca do ato de cozinhar, em especial daqueles alimentos: “Você se lembra de como aprendeu a fazer tapioca?”, “Quem ensinou você a fazer cuscuz?”, “O café de hoje tem o mesmo cheiro que o café de antigamente?”, “Os ingredientes eram os mesmos?”, entre outros estímulos. Todas as pessoas assinarão termo de consentimento para participação da presente pesquisa e também para uso de sua imagem.
Cronograma da atividade:
Início dos trabalhos:
- Apresentação I (20 min): Todos em roda para compartilhar "Quem sou eu, de onde venho" e um dito popular ou "frase de vó".
- Apresentação II (10 min): O percurso da pesquisa, formação e itinerário pessoal.
Proposta de trabalho para o dia:
- Engendramento dos trabalhos, feitura das tapiocas e do café, e começo da comunhão (45 min): Estabelecer voluntários para as tarefas, mobilizar o máximo possível de pessoas e suscitar lideranças. Durante a feitura, perguntar como aprenderam a cozinhar, que histórias ouviam, o que gostavam de fazer na cozinha, enfim, mobilizar a troca de experiências de tradição oral. Perguntar sobre a preparação das refeições, quem ajudava, receitas especiais, afetivas, memórias, sabores, cheiros, e tentar obter o máximo possível de histórias.
- Comer e resgatar (45 min): Enquanto comemos, discutir o papel desse espaço na formação do indivíduo em termos de identidade, memória, etnia e religiosidade. Questões a abordar incluem culturas ágrafas na transmissão com suporte escrito, o papel dos antepassados na transmissão de saberes, a ilusão do purismo, tradição e sua reinterpretação a cada geração, e o papel da religião nessa história.
Despedida e perguntas (30 min):
- Discutir que espaço tomou o lugar da cozinha, como resgatar essa "formação" doméstica, pertença étnica, cultural, religiosa, e o relato histórico escolar. Abordar a história da África e dos povos nativos como realidades distantes e desconstruir a miscigenação. Ressaltar que, mais do que qualquer aspecto ou tradição, a oralidade como forma de transmissão de saber é um patrimônio relevante a ser preservado.

Referências bibliográficas
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BRASIL. Lei 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
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NINA RODRIGUES, Raymundo. Os africanos no Brasil. São Paulo: Madras, 2008.
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SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 1987.
SPOLIN, Viola. O jogo teatral no livro do diretor. São Paulo: Perspectiva, 1999.
VAINFAS, Ronaldo. A Heresia dos índios, catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Carga Horária:

3 horas
Tipo: Optativa
Vagas oferecidas: 40
 
Ministrantes: Luciano Ferreira Alves


 
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