Atividade

100416 - Abril FFLCH 2021 - Marxismo feminista hoje

Período da turma: 13/04/2021 a 30/04/2021

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Descrição: Aula 1 – Marxismo e feminismo: encontros e desencontros
Profa: Isabela Meucci

Esta aula irá introduzir o tema central que será trabalhado ao longo de todo o curso - os entrecruzamentos entre marxismo e feminismo - tendo como base uma leitura crítica do livro "Ligações Perigosas: casamentos e divórcios entre marxismo e feminismo". Pretende-se apoiar no breve panorama apresentado por Arruzza sobre as relações entre o movimento feminista, o movimento operário e a esquerda marxista, com vistas a entender como elas se deram ao longo da história e quais debates e controvérsias fundamentais elas produziram no âmbito da teoria e da política desde o século XIX. Com isso, espera-se abrir caminho para as aulas seguintes, em que serão abordadas autoras centrais do pensamento marxista feminista e as interpretações originais que elas produziram sobre
classe, gênero, raça, patriarcado, capitalismo e teoria queer.
Leitura obrigatória
ARRUZZA, Cinzia. Ligações Perigosas: casamentos e divórcios entre marxismo e feminismo. São
Paulo: Usina Editorial, 2019.
Referências complementares
MARCELINO, Giovanna Henrique; DELLA TORRE, Bruna. Por um novo casamento entre feminismo e
marxismo - Entrevista com Cinzia Arruzza e Tithi Bhattacharya. Crítica marxista, n. 51, 2020.
SAFFIOTI, Heleith. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. São Paulo: Expressão Popular,
2013.
GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural da Amefricanidade. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de.
Pensamento feminista: conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019.

Aula 2 - Lise Vogel: reprodução social e teoria unitária
Profa: Giovanna Marcelino

Esta aula visa abordar as contribuições da socióloga norte-americana Lise Vogel em "Marxism and the
oppression of women: toward a unitary theory" (1983), obra que serviu de base para o desenvolvimento
de uma abordagem teórica específica do pensamento marxista-feminista: a chamada Teoria da
Reprodução Social (TRS). Para tanto, pretende-se apresentar as ideias centrais do livro, bem como
situá-lo no contexto e no campo de teorização mais amplo do qual ela faz parte, vinculado a emergência
das lutas por libertação das mulheres nos anos 1970 (Women's Liberation), aos debates do feminismo
socialista em torno do trabalho reprodutivo e das relações entre capitalismo e patriarcado, bem como à
novas leituras (feministas) da obra de Marx e Engels que emergiram no campo da teoria social a partir
dos anos 1960. Espera-se, com isso, evidenciar o sentido específico do termo "reprodução social"
empregado por Vogel, bem como de sua proposta de uma "teoria unitária", relacionada à tentativa de
conciliar análises feministas sobre gênero e marxistas sobre classe e oferecer uma explicação teórica única e integrada tanto da opressão das mulheres quanto do modo de produção capitalista. Por fim,
espera-se também brevemente abordar a atualidade de tais formulações e como elas foram
recentemente resgatadas e revitalizadas por autoras como Thiti Bhattacharya, Cinzia Arruzza e Susan
Ferguson para compreender o atual contexto de crise capitalista e as formas de luta contra ele.
Leitura obrigatória
FERGUSON, S.; MCNALLY, D. Capital, força de trabalho e relações de gênero. Outubro, n. 29, 2017.
Referências complementares
VOGEL, L. Marxism and Women Oppression: Toward a Unitary Theory. Boston: Brill, 2013.
BHATTACHARYA, T. “Lise Vogel (1938 - ) and social reproduction theory”. In: CALLINICOS, A.;
KOUVELAKIS, S.; PRADELLA, L. Routledge Handbook of Marxism and Post-Marxism. New York and
London: Routledge, 2021.
ARRUZZA, C. Considerações sobre gênero: reabrindo o debate sobre patriarcado e/ou capitalismo.
Outubro, n. 23, 2014.
BHATTACHARYA, T. O que é teoria da reprodução social. Outubro, n. 32, 2019.
FERGUSON, S. Feminismo interseccional e da reprodução social: rumo a uma ontologia integrativa.
Cadernos CEMARX, n. 10, 2017.

Aula 3 – Nancy Fraser: Feminismo para os 99%
Profa: Beatriz Sanchez Rodrigues

Nesta aula, discutiremos o livro “Feminismo para os 99%: um manifesto”, de autoria de Nancy Fraser,
Cinzia Arruzza e Tithi Bhattacharya, publicado pela editora Boitempo em 2019. Em primeiro lugar,
resgataremos o pensamento de feministas pioneiras que, antes da publicação do manifesto, já
apontavam para algumas das questões centrais contidas nele. Entre as referências que mobilizaremos
estão o manifesto do Coletivo do Rio Combahee, publicado em 1978, nos EUA, e a produção intelectual
de Lélia Gonzalez e de Carolina Maria de Jesus. Em seguida, articularemos as reflexões trazidas pelo
manifesto com a obra anterior de Nancy Fraser. Para isso, apresentaremos as três dimensões da justiça
social estabelecidas pela autora: redistribuição, reconhecimento e representação. Desenvolveremos
também a relação entre reacionarismo conservador e neoliberalismo progressista, por meio da crítica
feita por Fraser à dicotomia artificial criada entre as “políticas identitárias” e a luta de classes. Por fim,
tendo em vista o contexto contemporâneo de ascensão conservadora e autoritária em diversos países,
discutiremos as possibilidades emancipatórias de superação do capitalismo a partir das proposições
feitas pelas autoras do manifesto.
Leitura obrigatória
ARRUZZA, Cinzia.; BHATTACHARYA, Tithi.; FRASER, Nancy. Feminismo para os 99%: um manifesto.
São Paulo: Boitempo, 2019.
Referências complementares
Combahee River Collective. The Combahee River Collective statement. [1978]. In:Smith, B. (org.). Home
girls: a black feminist anthology. New Jersey,Rutgers University Press, 2008.
FRASER, Nancy. Reenquadrando a justiça em um mundo globalizado. Lua Nova: Revista de Cultura e
Política, n. 77, 2009.
FRASER, Nancy. Do neoliberalismo progressista a Trump – e além. Revista Política & Sociedade, v.17,
n. 40, 2018.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. São Paulo: Zahar, 2020.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.

Aula 4 – Silvia Federici: o patriarcado do salário e acumulação primitiva
Profa. Dra. Bruna Della Torre

A teoria da reprodução social desafiou a tese de algumas feministas na década de 1970 de que as
mulheres têm menos poder social que os homens no capitalismo porque não estão inseridas nas
relações capitalistas de produção. E, assim, bastaria que as mulheres entrassem no mercado de
trabalho para combater a dominação masculina e integrar as populações não assalariadas para que
elas deixassem de ser populações dominadas. Essa perspectiva, conforme demonstra Silvia Federici,
deixou o problema da reprodução em segundo plano, fazendo com que a democratização da vida
cotidiana fosse vista igualmente como secundária. O objetivo dessa aula é repensar a categoria de
trabalho de Marx, a partir da ideia de “salário do patriarcado” e de reprodução social de Federici, bem
como o conceito marxiano de acumulação primitiva, relido a partir da história de espoliação e
expropriação do trabalho e dos corpos das mulheres. Ao longo de sua obra, Federici demonstrou que o
capitalismo não vive apenas da exploração do trabalho assalariado e que o gênero, a família e o
trabalho reprodutivo ocupam um lugar central em sua configuração. Com isso, inaugurou uma nova
maneira de ler não só a obra de Marx, a partir de uma crítica feminista da economia política, mas do
próprio processo social capitalista. Além de alargar categorias marxistas fundamentais, a obra de
Federici amplia também as possibilidades da luta anticapitalista. Por fim, a aula buscará também
comentar a importância da reflexão a respeito do trabalho de uma perspectiva feminista para
compreender o momento atual da pandemia na América Latina, a partir das reflexões de Lucia Cavalero
e Verónica Gago.
Leitura obrigatória
FEDERICI, Silvia. O calibã e a bruxa. Mulheres, corpo, acumulação primitiva, Tradução de Coletivo
Sycorax. São Paulo: Editora Elefante, 2017.
Referências complementares
CAVALERO, Lucia; GAGO, Verónica. “Dívida, moradia e trabalho: uma agenda feminista para o pós-
pandemia”. LABORATÓRIO DE TEORIAS E PRÁTICAS FEMINISTAS — (PACC/UFRJ). Disponível em:
https://medium.com/laboratório-de-teorias-e-práticas-feministas-pacc/d%C3%ADvida-habitação-e-
trabalho-uma-agenda-feminista-para-o-pós-pandemia-9776cad9c302#d107
FEDERICI, Silvia. O patriarcado do salário. São Paulo: Boitempo, 2021.
FEDERICI, Silvia. Beyond the periphery of the skin. Rethinking, Remaking, and Reclaiming the Body in
Contemporary Capitalism. Califórnia: PM Press, 2020.
FEDERICI, Silvia. O ponto zero da revolução. Trabalho doméstico, reprodução e luta feminista.
Tradução de Coletivo Sycorax. São Paulo: Editora Elefante, 2019.
HOPKINS, Carmen Teeple. “Mostly Work, Little Play: Social Reproduction, Migration, and Paid Domestic
Work in Montreal”. In: Bhattacharya, Tithi (org.). Social Reproduction Theory: Remapping Class,
Recentering Oppression. London: Pluto Press, 2017.

Aula 5 – Angela Davis: capitalismo racial
Profa. Ana Flávia P. L. Bádue

Enquanto o marxismo feminista nos ensina que o capitalismo produz e é pautado por relações desiguais
de gênero, autoras brasileiras e estrangeiras deram um passo além ao explicitar os fundamentos raciais
do capitalismo. Nessa aula, discutiremos o livro Mulher, Raça e Classe de Angela Davis, ativista e
filósofa estadunidense. O objetivo central do encontro é identificar como, na visão da autora, racismo,
opressão de gênero e de classe se determinam mutuamente na sociedade capitalista, desde a
escravidão moderna ao complexo-industrial prisional. A aula também trará alguns temas
complementares. A fim de situar a autora e o livro, o encontro abordará o cenário político-intelectual da
formação de Davis como ativista e acadêmica, focando sobretudo em autoras e ideias que compõe
genealogia do pensamento marxista feminista negro nos EUA, como Claudia Jones. Além disso,
retomaremos a discussão sobre Lélia Gonzalez de encontros anteriores, a fim de identificar
continuidades e diferenças entre o debate marxista antirracista feminista no Brasil e nos Estados
Unidos. Por fim, faremos um mapeamento do debate contemporâneo sobre capitalismo racial, com
autoras como Ruth Gilmore, Charisse Burden-Stelly que e Flávia Rios, que atualizam a perspectiva
marxista anti-racista feminista à luz de questões do presente.
Leitura Obrigatória
DAVIS, Angela. 2016. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo.
Referências complementares
DAVIS, Angela. 2018. A liberdade é uma luta constante. São Paulo: Boitempo.
DAVIS, Angela. 2018. Estarão as prisões obsoletas? São Paulo: Bertrand Brasil.
GILMORE, Ruth Wilson. 1999. “You Have Dislodged a Boulder: Mothers and Prisoners in the Post
Keynesian California Landscape”. Transforming Anthropology 8 (1–2): 12–38.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. São Paulo: Zahar, 2020.
JONES, Claudia. 2017. “Um fim à negligência em relação aos problemas da mulher negra!” Revista
Estudos Feministas 25 (3): 1001–16.
RALPH, Michael; SINGHAL, Maya. 2019. "Racial Capitalism." Theory and Society 48 (6): 851-881.
RIOS, Flavia. A cidadania imaginada pelas mulheres afro-brasileiras: da ditadura militar à democracia.
In: Eva Blay; Lucia Avelar. (Org.). 50 anos de feminismo: Argentina, Brasil e Chile. São Paulo: Edusp,
2017.
BURDEN-STELLY, Charisse. 2020. “Modern U.S. Racial Capitalism”. Monthly Review.

Aula 6 – Marxismo Feminista hoje: questões e caminhos
Profas: Isabela Meucci, Giovanna Marcelino, Beatriz Rodrigues, Bruna Della Torre e Ana Flávia
Bádue

Essa aula consistirá em um “balanço crítico” do curso, em diálogo com as participantes. O objetivo é
levantar questões que visem aprofundar os conceitos trabalhados ao longo do curso de extensão, bem
como discutir possíveis conexões, continuidades, semelhanças e diferenças entre as autoras lidas ao
longo das semanas. Como a noção de justiça social de Nancy Fraser dialoga com a proposta de uma
teoria unitária de Lise Vogel? Em que medida os entrecruzamentos entre marxismo e feminismo no livro
de Cinzia Arruzza levam em conta o debate sobre os fundamentos racistas do capitalismo apresentados
por Angela Davis? Como a revisão da noção de trabalho, a partir de uma teoria da reprodução social de
Silvia Federici, nos permite pensar a relação entre marxismo e feminismo apresentada por Arruzza?
Como as perspectivas feministas e antirracistas abordadas no curso permitem alargar o conceito de
acumulação primitiva? Trata-se de confrontar as diversas teorias presentes no curso com o fito de
construir um panorama dos principais debates do marxismo feminista contemporâneo, mas também de
mostrar como esse campo de pesquisa e de luta, ainda em construção, estabelece um diálogo com uma
série de áreas de pesquisa nas Humanidades.

Carga Horária:

12 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 300
 
Ministrantes: Ana Flavia Pulsini Louzada Bádue
Beatriz Rodrigues Sanchez
Bruna Della Torre de Carvalho Lima
Giovanna Henrique Marcelino
Isabella Duarte Pinto Meucci


 
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