O curso se concentra em alguns dos principais conceitos e abordagens oriundas da antropologia da técnica. Retomamos a fórmula canônica de Marcel Mauss, que compreende a técnica como « ato tradicional eficaz », para incidir em variados fenômenos e situações etnográficas contemporâneas. Nosso enfoque é metodológico, com ênfase no aparato oferecido pela antropologia da técnica para perceber e descrever os processos de operação, manipulação, coordenação e correspondência, além das relações de predação, simbiose e cooperação implicadas nas variadas interações entre humanos e não-humanos (artefatos, plantas, animais, minerais, máquinas e ambientes de modo geral). Aposta-se na tecnodiversidade das cadeias de atos envolvidas nas mediações entre os humanos e os ambientes enquanto entrada perspicaz para o entendimento das condições de habitabilidade dos mundos, sobretudo diante da atual crise ecológica e das ansiedades tecnofóbicas/tecnotópicas provocadas pela irrupção do digital. O principal objetivo visado pela disciplina é fornecer contribuições da antropologia da técnica para a formação de estudantes e qualificação de projetos de pesquisa futuros.
1. Técnica e tecnologia 2. Tecnofobias e tecnofilias 3. Gesto técnico e tecnogêneses 4. Modos de ação: operação, manipulação e coordenação 5. Cadeias operatórias e redes sociotécnicas
AKRICH, M. (2014). Como descrever os objetos técnicos?. Boletim Campineiro De Geografia, 4(1), 161–182. https://doi.org/10.54446/bcg.v4i1.147 CESARINO, Letícia. 2022. O Mundo do Avesso: Verdade e Política na Era Digital. Ed: UBU DESCOLA, Phillipe. 2002. “Genealogia de objetos e antropologia da objetivação”. In: Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, ano 8, n. 18, p 93-112. DIGARD, J-P. 2011.A biodiversidade doméstica: uma dimensão desconhecida da biodiversidade animal. In Anuario Antropologico. FAGUNDES, Guilherme Moura. 2016. “Como o fogo devém ferramenta? notas sobre manejo e manipulação no Cerrado (Jalapão-TO)”. NOVOS DEBATES - FÓRUM DE DEBATES EM ANTROPOLOGIA, v. Vol.2, p. 59-67. HAUDRICOURT, André-Georges. 2013 [1962]. “Domesticação de animais, cultivo de plantas e tratamento do outro” Série Tradução n. 7, PPGAS/DAN. _____. 2019. “Natureza e Cultura na Civilização do Inhame: a origem dos clones e dos clãs”. Ilha, 21(2) 208-227. HUI, Yuk. 2020. Tecnodiversidade. São Paulo: Ubu. LATOUR, Bruno.1994. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. São Paulo: Ed. 34. LEMMONIER, Pierre. Cadeias Operatórias Míticas. Amazônica - Revista de Antropologia, Universidade Federal do Para - UFPA, 2013, 5 (1), pp.176-195. LEROI-GOURHAN, André. 1984 [1943]. Evolução e técnicas I - O homem e a matéria. Lisboa: Edições 70. _______. 1984b. Evolução e Técnicas: II- Meio e Técnicas. [1945] ed. Lisboa: Edições 70. _______. 2002 [1965]. O Gesto e a Palavra: 2- Memória e Ritmos. Lisboa: Edições 70. LEVI-STRAUSS, Claude. 1962. [2008]. O pensamento selvagem. Campinas, São Paulo: Papiros. 70. pp. 149-173. _______. 1988. “....nous avons lui et moi essayé à peu près de faire la même chose”. In: ANDRÉ Leroi-Gourhan ou les voies de l'homme. Paris: Albin Michel. p. 201-206. MAUSS, Marcel. 2003 [1934]. “As técnicas do corpo”. In: Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac &Naify. _______. 2006. Techniques, Technology and Civilisation. Oxford: Durkheim Press; Berghahn Books. MURA, Fábio. 2011. “De sujeitos e objetos: um ensaio crítico de antropologia da técnica e da tecnologia”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 17, n. 36, p. 95-125. NEVES, José Pinheiro. 2006. O apelo ao objeto técnico: a perspectiva sociológica de Deleuze e Simondon. Lisboa; Campo das Letras PITROU, Perig. 2016. “Introdução: Ação ritual, mito, figuração: imbricação de processos vitais e técnicos na Mesoamérica e nas terras baixas da América do Sul”. Revista de antropologia, 59, 1, p. 6-32. SAUTCHUCK, Carlos Emanuel. 2010. “Ciência e técnica”. In: Carlos Benedito Martins; Luiz Fernando Dias Duarte. (Org.). Horizontes das Ciências Sociais no Brasil - Antropologia. São Paulo: ANPOCS, v. , p. 97-122. _______. 2015. Aprendizagem como gênese: prática, skill e individuação. Horizontes Antropológicos (UFRGS. Impresso), v. 21, p. 109-139. _______. 2017. Técnica e transformação: perspectivas antropológicas. 1. ed. Rio de Janeiro: ABA Publicações, 500p. SIMONDON, Gilbert. 2020; Do modo de existência dos objetos técnicos. Tradução: Vera Ribeiro. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Contraponto. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo, and Yuk Hui. 2021. “For a Strategic Primitivism: A Dialogue between Eduardo Viveiros de Castro and Yuk Hui.” Philosophy Today 65 (2): 391–400.